Por falar em Beatles...

Eu tinha um tio (já morreu), que era o irmão mais novo da minha mãe. Ele era o meu ídolo, o meu super herói, minha paixão.
Lá pelo ano de 1994, em maio, se não me engano, ele chegou todo empolgado com uma fita cassete nas mãos, era Imagine de John Lennon. A música preferida dele era Don't Let Me Down. Enquanto eu e ele passávamos noites jogando baralho e escutando aquela fita, o resto do mundo se preparava para a copa do mundo.
A copa começou e nossas noites foram suspensas por jogos do Brasil. E foi assim durante junho e o julho. O Brasil se tornou tetracampeão. O Brasil estava feliz, meu tio estava feliz, eu estava feliz.

Julho estava pra acabar, era manhã do dia 30 de julho de 1994, a ressaca pela copa ainda impregnada. Foi naquela manhã que sofri a maior perda da minha vida, perdi o cara que eu mais amava e perdi a fé em muitas coisas.

Durante três meses fiquei em estado de choque, nada fazia sentido, eu só sentia uma coisa, a falta dele.
Um dia, num fim de tarde, encontrei aquela fita dentro de uma caixa onde a minha mãe havia guardado as coisas dele, prendi o choro e coloquei a fita no meu gradiente antigo. Apertei play e a música era Julia, estava bem no fim, uns segundos depois começou Don't Let Me Down.
Eu desabei, comecei a lembrar de todos os nossos momentos, das brincadeiras, dos presentes em datas não especiais, de como ele franzia a testa quando apertava a minha bochecha, de como ele gostava de cebola, dele repetir ‘don’t let me down’ em voz alta para que eu ouvisse. E naquele fim de tarde eu ouvi o pedido dele para não deixá-lo triste com a minha tristeza.
E não deixei.